Por Carlos Alberto de Sousa, engenheiro agrônomo
A safra brasileira de grãos 2021/2022, que, pelo calendário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, se encerra no dia 30 de junho próximo, ocorreu e ainda ocorre em um ambiente de muitas mudanças, decorrentes de fatores como: os reflexos da pandemia da Covid-19, iniciada em 2020, no emprego e na renda no campo; a violenta estiagem que afetou a produção de grãos nas principais regiões produtoras do país; a enorme elevação dos preços dos insumos, principalmente dos fertilizantes, provocando desabastecimento, em face da guerra da Ucrânia, aumentando excessivamente os custos de produção e os preços dos alimentos, alimentando a inflação; a suspensão precoce dos financiamentos de crédito rural com recursos subsidiados do Governo Federal, prejudicando essencialmente os médios produtores; aumento dos preços dos combustíveis, notadamente do óleo diesel; apenas para elencar os principais.
No caso específico do crédito rural, a suspensão dos financiamentos com taxas de juros equalizadas pelo governo desde o dia 7 de fevereiro/2022, e ao que parece deverá se estender até 30 de junho/2022, tem reflexos impactantes na agropecuária da região Semiárida do Nordeste, cujos produtores estão habituados com o subsídio e cujas atividades não suportam encargos financeiros de no mínimo 13% ao ano, como os atualmente praticados pelos bancos. Apenas a título comparativo, as taxas de juros de linhas como a do Programa de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) foram estabelecidas para a presente safra em 5,5% e 6,5% ao ano para Custeio e Investimento, respectivamente, o que, convenhamos, é uma diferença brutal. Em face disso, pouquíssimos são os produtores que se arriscam a tomar crédito e alguns o fazem porque não têm a exata noção do impacto que esses encargos provocam nas suas atividades agropecuárias.
Para os produtores de leite, cujo custo de produção sofre com os sucessivos aumentos dos preços dos alimentos concentrados e da manutenção do preço do leite na casa dos R$ 2,00 o litro, o drama é ainda maior o que levou muitos produtores a suspenderem a produção, haja vista que a conta não fecha.
Nesse cenário de dificuldades, o Plano Safra 2022/2023 está sendo aguardado com muita expectativa e com muitos questionamentos por parte dos produtores principalmente no que concerne a:
- Que taxas de juros, nesse cenário de taxa básica (Selic) de 11,75% (março/2022) e com perspectiva de elevação até o final do ano, serão praticadas?;
- O apoio via crédito para os agricultores familiares e, notadamente para os médios produtores – estes os mais prejudicados nessa safra -, será aumentado, tendo em vista que os recursos alocados nos últimos Planos não foram suficientes?
- Que política será adotada para amenizar o problema do desabastecimento e de dependência de fertilizantes em caso de prolongamento da guerra da Ucrânia?
- Diante das dificuldades orçamentárias do governo federal, que volume de recursos será reservado para o novo Plano Safra?
