Joaquim Pinheiro

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POBREZA, FOME E COVID-19 II

Por Henrique Santana

A vergonhosa exposição da pobreza e da fome, sinônimos na maioria das vezes, por conta da COVID-19, vai se ampliando com a questão do Auxílio Emergencial do Governo Federal, que se mostra um competente indicador de qualidade de vida de parte da população brasileira. A CEF creditou ontem a última parcela desse benefício para mais de 3,2 milhões de brasileiros. Algumas iniciativas no Senado e na Câmara ainda propõem a extensão da transferência desse recurso aos mais vulneráveis. Mas o certo é que vai se confirmando que ele não será ampliado. Existe uma visão econômica de que esse auxílio foi provocado pela pandemia, tem caráter emergencial e não deve ser prorrogado pelo risco de exceder a capacidade de endividamento do país e desequilibrar as finanças nacionais. No artigo da semana passada nós vimos que o percentual da população que depende desse dinheiro para comer ultrapassa 50% no RN. Na ponta desse flagelo estão mais de 300 mil norteriograndenses, quase 9% da sua população, que voltam à miséria absoluta, passando a viver com uma renda mensal por pessoa de menos de 8 reais, segundo pesquisa PNAD/IBGE (novembro, 2020). É um desastre humanitário que precisa ser mais bem avaliado. Em primeiro lugar não se pode entender que essa situação tenha sido causada pelo coronavírus, exclusivamente. Como o status social de tanta gente possa ter se degenerado dessa forma em apenas 11 meses? É claro que a pandemia é grave, o vírus é mortal e a crise sanitária agravou a vulnerabilidade econômica dessa camada da sociedade. Mas não se pode acreditar que ela tenha sido a única causadora e que essas pessoas estivessem sobrevivendo em condições mínimas aceitáveis, sequer. É preciso fazer alguma coisa e exercer a nossa solidariedade de forma efetiva. E somos assim. A nossa empatia aflora em momentos de caos e sofrimento comum. A partir dai muito pouco deveria importar, pois uma desventura como essa obrigaria dispensar dificuldades burocráticas ou parlamentares, aspectos econômicos ou jurídicos e, muito menos, políticos. Veem-se, em todo o mundo, demonstrações revoltadas na defesa de muitos e justos direitos e combate a desigualdades; direitos à inclusão de negros, de sem terra ou teto, de livres opções sexuais ou de gênero. Defende-se com unhas e dentes o meio ambiente e seus recursos naturais. No balanço dessa reflexão seria muito importante que os nossos interesses coletivos se voltassem para o direito de sobrevivência e igualdade dos nossos semelhantes para que não passem fome.

Henrique Santana é engenheiro civil, mestre e doutor em meio ambiente

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